segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Rosângela Dorazio apresenta pinturas expressionistas em São Paulo

Rosângela Dorazio apresenta “PELAS PAREDES” no DConcept
Artista transforma a correspondência recebida em obra de arte


Abertura, 02 de dezembro, quarta-feira, das 18h às 22h
Visitação: de 03 a 31 de dezembro de 2009 – das 14h às 19h

A mineira Rosângela Dorazio, não apresenta uma individual na cidade desde 2005, quando participou do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo. Desta vez Dorazio faz um passeio pelas correspondências que recebe. Intitulada “Pelas Paredes”, Rosângela recria o que lhe foi jogado por debaixo da porta. Meticulosa reconstrução de uma realidade dada. Imagens que seriam meros motivos de fetiche – estampado, padronizado – ganham a cada pincelada novas formas, cores e texturas. A pintura surge como uma necessidade vital, dessacralizada sobre o papel. A individual que abre na próxima quarta-feira, 02 de dezembro, permanece até dia 31, com entrada franca.

As malas diretas adentram em nossas casas como se fossem nossas melhores amigas. Invadem sem chamado. Dizem em que investir, o que vestir, para onde ir. Fazem de conta que nos conhecem e, como as cartas que há muito deixamos de receber, se travestem de intimidade. Em vez de atirá-las contra a lata de lixo ou aceitá-las passivamente, Rosângela Dorazio presta atenção ao que recebe sem pedir. Colhe o que lhe chama atenção e nos devolve agora na forma inversa da publicidade, convidando-nos a sua intimidade, seus desejos, sua poesia.
 Não somos meros receptores, diz a artista em sua nova série. Tem alguém ali detrás da porta. Alguém que chora, que sonha, que trabalha, que dorme, que existe para além das etiquetas impressas em off-set. E é ela, com o pincel melado de tinta, roçando as mãos inquietas sobre os postais multiplicados, quem inscreve sua condição humana.

Como relatos pessoais, cenas despontam fragmentadas, sobrepondo-se aos verbos imperativos da publicidade, às ilustrações enviadas pelo correio. Peitos, braços, pernas, pés e rostos lânguidos, quase todos femininos, emergem da superfície para revelar o terreno da privacidade. Esse que a propaganda tenta surrupiar artificialmente.

Nesse jogo de recortes criativos, a artista deixa transparecer intencionalmente alguns elementos das peças publicitárias, a fim de que travem um diálogo sorrateiro com suas figuras de carne e osso. O verbo passar por cima aqui não quer dizer apagar, mas sobrepor com certa imposição artística o gestual das mãos e das tintas sem esconder alguns pontos visuais que lhe captaram a retina nos papéis impressos.

Nas palavras de Dorazio: “PELAS PAREDES é o nome que escolhi para esta série de pinturas feitas com tinta à óleo sobre papel impresso. Há muito tempo observo como meu trabalho de arte parece tímido e impotente frente à força da comunicação da publicidade. Ela está em todos os lugares: Imagens de Out Doors nas ruas, ônibus, televisão, cinema, jornais e revistas. Abusando de cores, brilho e força, contendo mensagens sempre tão seguras e imperativas. Enquanto isto, falo das minhas incapacidades, das minhas inseguranças, pequenas felicidades, que expresso para poucos que se dispõem a apreciar imagens.

Acho curioso como as malas diretas me conhecem. Elas chegam por debaixo da porta sem nenhum convite. Estes papéis maravilhosos, sedutores e brilhantes avisam o que devo ter ou fazer ou comprar para finalmente ser feliz e de preferência linda. Passei a colecionar este material inútil e lindo para me valer dele no meu trabalho. Encontro uma diversidade enorme de papéis, sem me interessar por seus nomes nem vernizes de impressão. Não encontraria esta fartura na vizinha loja de materiais artísticos. Pinto sobre este suporte, incorporando o que já me é dado. Às vezes aproveito as imagens, às vezes quase apago tudo com a pintura. O destino deste material muda.
 
Agora sou remetente desta mala direta, que torna ao mundo com outras mensagens, outras idéias, e destinada a quem se interessar a olhar”, conta a artista.

release baseado em texto de Olívia Mindêlo
Abaixo texto de Ricardo Rezende

SERVIÇO:
Rosângela Dorazio em “Pelas Paredes”
Dconcept Escritório de Arte: Alameda Lorena, 1257 G1 – Vila Flavio de Carvalho
Abertura, 02 de dezembro, quarta-feira, das 18h às 22h
Visitação: 03 a 31 de dezembro de 2009 – das 14h às 19h
http://www.dconcept.net/
info@dconcept.net
N° de obras: 20 em pequenos formatos – óleo s/ mala-direta
Assessoria de imprensa: Solange Viana
tel. (11) 4777.0234 – solange.viana@uol.com.br
skype: sol.viana

PELAS PAREDES - óleo s/mala direta A série de pinturas sobre papel apresentadas por Rosângela Dorazio nesta individual no Espaço D-Concept, não trata de uma arte engajada ou politicamente correta, embora seja uma crítica clara ao consumismo, tema contemporâneo que faz parte do nosso cotidiano, principalmente daqueles que vivem nos grandes centros urbanos. O que a artista nos mostra está mais para um experimento da linguagem pictórica.

Somos comumente bombardeados com uma quantidade enorme de imagens e informação voltadas para o consumo e que são entregues ou deixadas em nossas casas. Uma quantidade imensa de papel e gastos com postagem nesta operação de marketing. Este material habitualmente de custo elevado, é imediatamente descartado na forma de um desperdício diante de sua inutilidade. Em um gesto provocativo, quase que de irritação (algo que acomete a todos os cidadãos conscientes) ao ver sua correspondência invadida por uma quantidade cada vez maior deste tipo de propaganda e convites de toda sorte que, em sua maioria, não são solicitados, portanto, uma correspondência indesejada que a artista, poeticamente, começou a usar como matéria para seu trabalho de arte, dando-lhe um outro sentido como suporte para suas pinturas.

O que se vê sobre as imagens que este material gráfico carrega, muitas vezes são parte de seu próprio corpo observado na intimidade do seu ateliê, que dilui o que antes se via, criando uma imagem híbrida que mistura as duas linguagens, a fotografia e a pintura. O que ela nos apresenta é uma pintura expressionista de cores intensas e pinceladas fortes, que resultam em um figurativismo denso e dramático. Nada mais do que um registro poético de sua presença e passagem pelo mundo diante dos nossos conflitos existenciais.

Ricardo Rezende
Critico de Arte