segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Próxima exposição da Casa Triângulo: Alex Cerveny


Casa Triângulo apresenta
Alex Cerveny: Mar interior

Mar interior | individual de Alex Cerveny

Abertura: 23 de novembro, sábado, das 12h às 17h
Visitação: 26 de novembro a 21 de dezembro de 2013

Eu me sinto mais um escritor que escreve imagens, me sinto mais um cronista que um artista. A tradição que me agrada na arte é essa de contar histórias, como retábulos, como os muros assírios que contam histórias de batalhas...”
Alex Cerveny

Casa Triângulo apresenta a partir de 23 de novembro, sábado, Mar interior, individual de Alex Cerveny [São Paulo,/SP, 1963. Vive e trabalha em São Paulo/SP]. Com desenhos e pinturas inéditas a mostra, permanece em cartaz até o dia 21 de dezembro, com entrada franca.
Como as cheias do Pantanal mato-grossense, a exposição Mar interior contou quase com um ano para estar inteiramente formada. Nesta mostra, Alex Cerveny exibe por volta de cinquenta trabalhos, entre pinturas e desenhos, realizados sob forte inspiração acerca do que é a pujança visual da bacia do rio Paraguai, localidade ilhada entre o Brasil e a Bolívia, região de infinitas áreas alagadiças.
O apuro técnico é um denominador comum na obra de Alex Cerveny. Ele não se prende a uma única técnica ou material: desenhos, esculturas, pinturas, bordados, colagens, cerâmicas, fotografias e gravuras, estão presentes em sua obra.
Como tema, utiliza-se de referências históricas, “algumas delas biográficas, como as figuras retorcidas e elásticas – lembranças de sua vivência de artista circense; outras literárias, e outras, ainda, dos meios de comunicação em massa, criando uma intrigada alegoria”.
A exposição “Mar interior” foi concebida por Alex Cerveny a partir de duas viagens realizadas à região da Serra do Amolar, no Mato Grosso do Sul, entre 2012 e 2013. Na primeira viagem o contato com a Escola Jatobazinho despertou o desejo de realizar um projeto de arte-educação.
A Escola Jatobazinho, parceria público privada entre a prefeitura de Corumbá e a organização da sociedade civil Acaia Pantanal, atende crianças que vivem em fazendas e portos ao longo do Rio Paraguai onde o acesso ao transporte, saúde e educação é um permanente desafio. Não apenas alunos, mas o corpo pedagógico e sua equipe de apoio, buscam através da experiência, fórmulas para superar os desafios do isolamento. Neste contexto a arte-educação pode ser uma contribuição significativa para o desenvolvimento destes alunos.
Nesta certeza, alunos, professores e monitores, em conjunto com o artista Alex Cerveny, com o apoio do programa “Desafios Contemporâneos” da FUNARTE, realizaram quatro murais nas paredes dos dois dormitórios da escola, que proporcionaram uma sensação de acolhimento e pertencimento para os participantes.
Com o intuito de dar continuidade a projetos de arte na Escola Jatobazinho, a Casa Triângulo e Alex Cerveny se comprometem em doar 10% da renda desta exposição.
Para Marcio Harum, em texto de apresentação, “No conjunto de obras em exibição ainda estão incluídas duas pinturas fortes de paisagem noturna, feitas a óleo sobre a semitransparência do linho. A sós, em meio à natureza, uma índia e um índio, representando em oposição as duas margens de um mesmo rio, como figuras deslocadas e postas na contraordem do tempo cronológico, sugerem repensarmos a impossibilidade real dos encontros, principalmente aqueles que têm sido mediados por toda sorte de anteparos digitais, o que faz a vida desembocar na falta de espontaneidade a que estamos absolutamente sujeitos nos dias de hoje”.
Para saber mais:

SERVIÇO:
Mar interior | individual de Alex Cerveny
Desenhos e Pinturas inéditas
Abertura: 23 de novembro, sábado, das 12h às 17h
Visitação: 26 de novembro a 21 de dezembro de 2013

local: casa triângulo
endereço: rua pais de araújo 77  [Itaim bibi]
tel: 11 3167-5621
site: www.casatriangulo.com
horário de funcionamento: de terça a sábado das 11 às 19 horas

Mais informações:
Assessoria de Imprensa: Solange Viana – t. (11) 4777.0234 | solange.viana@uol.com.br | HTTP://solangeviana.blogspot.com

Leia texto de apresentação da exposição de Alex Cerveny

Abaixo texto de Márcio Harum, para apresentação da exposição "mar interior" de Alex Cerveny, que abre em 23 de novembro na Casa Triângulo.


Guarânia da baía Vermelha
Marcio Harum

Como as cheias do Pantanal mato-grossense, a exposição Mar interior contou quase com um ano para estar inteiramente formada. Nesta mostra, Alex Cerveny exibe por volta de cinquenta trabalhos, entre pinturas e desenhos, realizados sob forte inspiração acerca do que é a pujança visual da bacia do rio Paraguai, essa localidade ilhada entre o Brasil e a Bolívia, região de infinitas áreas alagadiças, um mar sem costa, maré cheia nem vazante, mas de margens que borram lenta e constantemente o mapa do centro sul-americano. Na busca talvez de um oceano, o Atlântico, vê-se como sobrevoadas de monomotor marcaram o artista durante o período de intenso trabalho, no qual barqueou por sistemas hidroviários, deu aulas de arte para crianças em um projeto socioeducativo e explorou a cavalo um pouco da região da serra do Amolar, nas proximidades de Corumbá (MS).

São dois grupos de obras de dimensões variáveis que compõem a mostra – os “hidrográficos”, que, na ponta do pincel da associação poética, apresentam gestos rápidos, baseados em registros de memórias, pessoas, lugares e momentos ali vividos no entorno pantaneiro, finas aquarelas negras sobre papel branco levíssimo; e desenhos que reavivam fluxos de navegação do caminho fluvial Paraguai-Paraná, esse corte hidrográfico ao longo de 3.500 quilômetros, símbolo do programa de integração continental, que atravessa ao meio a América do Sul. Despontam nessa série figuras de seres metamorfoseados em homem-peixe e duelos de animais complementares – contraditórios, como os do homem versus jacaré –, firmando, assim, pela imaginação do artista, o caráter da exposição. Com a intuição na mira de certos aspectos da cosmogonia guarani, Cerveny evoca com Mar interior a origem do mundo e os fenômenos do surgimento da condição humana em meio à natureza selvagem.

O segundo agrupamento é constituído de cinco desenhos maiores, nos quais aguadas de fundo azul mancham o peso da gramatura do suporte em papel. Uma fina tinta preta de traços suavemente delineados e o uso das folhas de prata caracterizam a série, como se houvesse sido criada por delicados acordes ancestrais de uma harpa cosmológica, ao extroverter em sua grandeza e fragilidade uma rara visão interior sobre a gênese do Universo, na qual estrutura e evolução parecem ser respostas diretas às tentativas de apreensão dos métodos para o estudo dos sonhos.

No conjunto de obras em exibição ainda estão incluídas duas pinturas fortes de paisagem noturna, feitas a óleo sobre a semitransparência do linho. A sós, em meio à natureza, uma índia e um índio, representando em oposição as duas margens de um mesmo rio, como figuras deslocadas e postas na contraordem do tempo cronológico, sugerem repensarmos a impossibilidade real dos encontros, principalmente aqueles que têm sido mediados por toda sorte de anteparos digitais, o que faz a vida desembocar na falta de espontaneidade a que estamos absolutamente sujeitos nos dias de hoje.

Mar interior suscita os antigos conhecimentos a respeito do significado da “Terra sem mal”(Ivy marãey); nas tradições tupi-guarani, indivíduos e grupos que abandonam suas aldeias e saem em busca de uma superação ambivalente, rejeitando a ordem do convívio social, sem precisar de fato da morte como passagem para tal feito, alcançam essa força de transformação pela prática de exercícios migratórios e de caminhadas sem rumo. Ao deixarem para trás a coletividade da aldeia e o peso de ser homem, sofrem de uma transmutação de homens em deuses, conquistando sua entrada para habitar, enfim, a “Terra sem mal”.