O sarcasmo da arte face à
dúvida
Com 14
artistas a exposição reflete a própria complexidade e indefinição do momento
atual.
Viva Maria,
curadoria de Maria Montero exposta de 7 de junho a 26 de julho, inclui artistas
como Thomaz Farkas, Pablo Lobato (fotos
abaixo),Regina Silveira, Rochelle Costi e Roberto Traplev
Com
título tomado de um dos mais impactantes trabalhos de Waldemar Cordeiro, a
exposição Viva Maria dialoga de
maneira pouco óbvia com o momento presente. Assim como a icônica obra, que
exibe em letras garrafais a palavra “canalha”, os trabalhos que Maria Montero
selecionou são de um escárnio cortante. Em meio ao verdadeiro suspense quanto
aos rumos do cenário social e político do Brasil no momento de realização da
Copa do Mundo, a curadora reuniu trabalhos que lançam mão de ironia, ou mesmo
de afiado cinismo, para indagar a realidade ou propor utopias.
Se a
obra de Waldemar Cordeiro respondia, em 1966, à profunda crise institucional do
país (que levou ao golpe militar e à ditadura), pode-se dizer que a curadoria
desta Viva Maria se posiciona perante
o debochado e provocativo bordão “imagina na Copa”. Longe de uma abordagem
politicamente comprometida, ou mesmo de qualquer tese cristalizada sobre os
acontecimentos, a seleção de trabalhos reflete a própria complexidade e
indefinição do momento atual. Nas palavras da curadora, o conjunto pode ser
lido como um “reflexo do espírito brasileiro, desgosto e esperança convivendo
juntos e um senso de humor aguçado para driblar a situação”.
A obra
de Waldemar Cordeiro – ironicamente – não compõe a exposição, que inclui
trabalhos de: Tobias Putrih, que reinventa objetos e espaços; Regina Silveira,
com sua fusão entre crítica cultural e investigação da percepção; Fabiana de
Barros & Michel Favre, em fragmentos narrativos que dizem muito sobre a
contemporaneidade; Héctor Zamora e as possibilidades discursivas de elementos
do trabalho e intervenções urbanas; RochelleCosti, que revela a eloquência do
trivial; Ricardo Basbaum, recriando a própria noção de ocupação espacial
humana; Thomaz Farkas, com seu trabalho pioneiro na fusão entre registro e
expressão artística.
No
embate entre produções históricas e contemporâneas, a exposição propõe uma
reflexão aberta, inconclusa, sobre a crítica social na arte – no caso do
Brasil, antes condicionada pela repressão e pela censura, e agora marcada por
uma confusão ético-moral onde a corrupção domina e a crítica se faz por vozes
dispersas, longe de qualquer unidade.
A
curadoria incluiu, ainda, obras de Roberto Traplev, Rafael RG, Pablo Lobato,
Pedro Victor Brandão, Gustavo Speridião, e do escocês Michael White – que, assim
como o eslovaco Putrih, mostra que o tema local pode ser lido de maneira
interessante e pertinente também pelo olhar estrangeiro.
Sobre a curadora
Maria
Montero é curadora independente, artista, produtora executiva especializada em
exposições e galerista. Cursou ArtPsychotherapy na Goldsmith College em Londres
(1998), atualmente cursa Arte: História, Crítica e Curadoria na PUC-SP.
Trabalhou como Relações Institucionais na Galeria Luciana Brito (2009-2010),
foi curadora da primeira versão do Red Bull HouseofArt (2009) e coordenou o
projeto Abotoados Pela Manga, ao lado de Franz Manata (2010). É fundadora e
gestora do Phosphorus, espaço independente voltado para práticas experimentais,
exposições, residências, workshops e projetos especiais. É também diretora e
fundadora da Sé, galeria de arte localizada no mesmo prédio do Phosphorus.
Exposição Viva Maria
Local Luciana
Brito Galeria
Rua Gomes
de Carvalho, 842 – Vila Olímpia | (11) 3842 0634
Período de 7 de junho a 26 de julho de 2014
Horário de terça a
sábado, das 10 às 19h
Artistas Fabiana de
Barros e Michel Favre, Geraldo de Barros, GustavoSperidião, Héctor Zamora,
Michael White, Pablo Lobato, Pedro Victor Brandão, Rafael RG, Regina Silveira,
Roberto Traplev, RochelleCosti, Thomaz Farkas, Tiago Tebet e Tobias Putrih
Assessoria de Imprensa: Solange Viana
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